14 de junho de 2008



O primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança é a oração. Quando já ninguém mais me escuta, Deus ainda me ouve. Quando já não posso falar com ninguém, nem invocar mais ninguém, a Deus sempre posso falar. Se não há mais ninguém que me possa ajudar, Ele pode ajudar--me. Se me encontro confinado numa extrema solidão... o orante jamais está totalmente só.

S. Agostinho define a oração como um exercí­cio do desejo. O ser humano foi criado para uma realidade grande, ou seja, para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele. Mas, o seu coração é demasiado estreito para a grande realidade que lhe está destinada. Tem de ser dila­tado. «Assim procede Deus: diferindo a sua promessa, faz aumentar o desejo; e com o desejo, dilata a alma, tor­nando-a mais apta a receber os seus dons».
«Supõe que Deus queira encher-te de mel (símbolo da ter­nura de Deus e da sua bondade). Se tu, porém, estás cheio de vinagre, onde vais pôr o mel?» O vaso, ou seja o cora­ção, deve primeiro ser dilatado e depois limpo: livre do vinagre e do seu sabor. Isto requer trabalho, faz sofrer, mas só assim se realiza o ajustamento àquilo para que somos destinados. O ser humano neste esforço, com que se livra do vinagre e do seu sabor amargo, não se torna livre só para Deus, mas abre-se também para os outros. Orar não significa sair da história e retirar-se para o canto privado da própria felicidade. O modo correcto de rezar é um processo de purificação interior que nos torna aptos para Deus e, precisamente desta forma, aptos também para os homens.
Assim tornamo-nos capazes da grande esperança e ministros da esperança para os outros: a esperança em sentido cristão é sempre esperança também para os outros. E é esperança activa, que nos faz lutar para que as coisas não caminhem para o «fim per­verso». É esperança activa precisamente também no sentido de mantermos o mundo aberto a Deus. Somente assim, ela permanece também uma esperança verdadeira­mente humana.

Bento XVI, Salvos na esperança

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