Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único Recado que repito para que me não esqueça. Pedra Que trago para sentar-me no banquete A única glória no mundo — ouvir-te. Ver Quando plantas a vinha, como abres A fonte, o curso caudaloso Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa Chaga do pastor Que abriu o redil no próprio corpo e sai Ao encontro da ovelha separada. Cerco Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes A flor — várias árvores cortadas Continuam a altear os pássaros. Os caminhos Seguem a linha do canivete nos troncos As mãos acima da cabeça adornam As águas nocturnas — pequenos Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio Alveolar expira — e eu Estendo-as sobre a mesa da aliança Daniel Faria, in "Dos Líquidos" |
30 de novembro de 2010
Quero a Fome de Calar-me
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